O trágico incêndio que tirou a vida de quatro meninos gêmeos no bairro de Sutton, sudoeste de Londres, chocou profundamente a comunidade local. O julgamento do caso trouxe à tona uma série de questões sobre negligência, falhas no sistema de proteção social e vulnerabilidade de famílias que vivem em condições precárias. Leyton e Logan Hoath, de três anos, e Kyson e Bryson Hoath, de quatro, perderam suas vidas em 16 de dezembro de 2021, em um incêndio que devastou a casa onde moravam. O incidente, além de trágico, revelou uma situação de descaso e abandono que contribuiu para a fatalidade.
O fogo teve início devido a um cigarro ou vela que caiu no chão, e, em questão de minutos, as chamas se espalharam rapidamente pela sala de estar, alimentadas pelo lixo acumulado. A casa, que já era insalubre, tornou-se um cenário ainda mais perigoso diante dessa negligência. No momento do incêndio, as quatro crianças ficaram sozinhas em casa, o que agravou ainda mais a tragédia. Vizinhos dizendo ouvir os gritos desesperados das crianças pedindo ajuda, com a frase “Tem um incêndio aqui” sendo uma das últimas palavras ouvidas das vítimas.
A tentativa de resgate foi rápida, mas as chamas intensas impossibilitaram qualquer ação eficaz por parte dos vizinhos e, posteriormente, dos bombeiros. Quando os socorristas conseguiram entrar em casa, já era tarde demais. As crianças foram encontradas inconscientes debaixo de uma cama. Foram realizadas manobras de reanimação, mas, infelizmente, nenhuma delas sobreviveu à inalação da fumaça. A cena, devastadora, deixou marcas profundas em todos os envolvidos, principalmente na comunidade local, que conhecia e amava os meninos.
Um dos pontos cruciais que surgiram durante a investigação foi o fato de que o detector de fumaça da casa, localizado no primeiro andar, estava sem baterias e, portanto, inoperante. Esse detalhe crucial, que poderia ter dado às crianças uma chance de escapar, destacou a negligência que permeava o ambiente doméstico. A ausência de um dispositivo de segurança funcional foi considerada um dos muitos fatores que desenvolveram para o desenvolvimento trágico.
A mãe das crianças, Deveca Rose, foi responsabilizada e julgada por homicídio culposo quádruplo. Durante o julgamento, realizado no tribunal de Old Bailey, Rose afirmou que havia deixado os filhos sob os cuidados de uma amiga chamada Jade enquanto saía para fazer compras. Contudo, as investigações provaram que essa pessoa nunca existiu, ou, se existiu, não esteve envolvida no episódio em questão. Esse dado foi determinante para o veredito da culpa.
As autoridades, ao longo do julgamento, argumentaram que Rose vivia em um ambiente de extrema precariedade, com a casa em condições insalubres e sem infraestrutura básica. Entre os muitos problemas relatados, um dos mais chocantes foi a falta de banheiros funcionais, o que forçava as crianças a usar baldes para suas necessidades. Esse nível de manipulação e abandono chamou a atenção para o contexto de vulnerabilidade em que a família estava inserida.
Outro aspecto importante foi o fato de que Deveca Rose, de 30 anos, havia rejeitado repetidamente ajuda de familiares e dos serviços sociais. Apesar das diversas ofertas de apoio, ela preferiu enfrentar as dificuldades sozinha, o que acabou expondo as crianças a uma situação de extremo risco. Durante o julgamento, Rose admitiu que já havia deixado os filhos sozinhos em casa em mais de uma ocasião, alegando não ter com quem contar para cuidar deles. Essa concessão reforçou o argumento de negligência no caso.
Embora Rose tenha reconhecido que sua prisão estava diretamente ligada à morte dos filhos, ela insistiu, ao longo do julgamento, que não sabia que as crianças estavam sozinhas no momento do incêndio. Sua defesa tentou argumentar que ela não tinha plena consciência do perigo em que seus filhos se encontrassem, mas o tribunal considerando que a negligência era evidente e que não poderia ser justificada. Esse ponto foi central para as reportagens.
O caso levantou questionamentos sobre as falhas no sistema de proteção à infância e no suporte social oferecido às famílias em risco. O estágio trágico expõe a necessidade urgente de intervenções mais eficazes por parte das autoridades em situações de vulnerabilidade infantil. Muitas famílias, assim como a de Deveca Rose, enfrentam desafios severos que, sem acompanhamento adequado, podem resultar em tragédias como essa. A falta de infraestrutura, o isolamento social e a saúde mental da mãe foram fatores que, combinados, ocorreram em um cenário de alto risco.
Deveca Rose, além de lidar com a perda irreparável de seus quatro filhos, foi condenada com o peso de ter sido considerada a principal responsável pela tragédia. Embora suas observações tenham sido vistas como uma forma de justiça para os meninos, ela trouxe à tona uma reflexão mais profunda sobre o que pode ser feito para evitar que casos semelhantes aconteçam no futuro. A dor da comunidade e dos familiares é imensurável, e o impacto dessa perda será sentido por muitos anos.
Este caso também serve como um lembrete doloroso de que, em muitos lares, as condições de vida podem ser perigosas e perigosas, e que, sem apoio adequado, essas famílias correm riscos severos. A morte dos meninos é uma tragédia que poderia ter sido evitada com intervenções mais rápidas e eficazes. No entanto, fica a lição de que é preciso haver uma rede de apoio mais sólida para identificar e ajudar famílias que vivem em condições de extrema vulnerabilidade.
O incêndio em Sutton não foi apenas uma tragédia isolada, mas um reflexo de falhas sociais e estruturais que ainda afetam muitas comunidades. As autoridades precisam aprender com esse caso para garantir que as famílias em situação de risco recebam a ajuda de que precisam antes que ocorram catástrofes como essa. A morte de Leyton, Logan, Kyson e Bryson será sempre lembrada como um símbolo da necessidade de mudanças urgentes no apoio social oferecido às crianças e suas famílias.